JN tem acesso a documentos que mostram que direção dos Correios foi alertada há dois anos de que corria risco de ficar sem dinheiro
16/12/2025
(Foto: Reprodução) Direção dos Correios foi alertada há dois anos de que corria risco de ficar sem dinheiro
O Jornal Nacional teve acesso a documentos inéditos sobre a crise dos Correios. A reportagem é de Thiago Resende e Júlio Mosquéra.
O Conselho Fiscal dos Correios fez ao menos quatro alertas, desde 2023, sobre o aumento das despesas e a perda de receita da estatal. Documentos internos mostram grande preocupação dos conselheiros - um representante do Tesouro Nacional e dois do Ministério das Comunicações.
Em agosto de 2023, o Conselho cobrou informações sobre medidas tomadas para redução de despesas e um plano de ação para geração de receitas. Dois meses depois, os conselheiros alertaram para o alto custo da folha de pagamento e a baixa capacidade da empresa de reduzir despesas no curto prazo.
Já em abril de 2024, o Conselho Fiscal apontou que as metas de receitas definidas pelos Correios pareciam arrojadas, considerando o histórico que se mostrava mais conservador. Ou seja, as receitas estavam superestimadas.
Os alertas foram mais fortes em agosto de 2024: risco de insuficiência orçamentária. O Conselho Fiscal manifestou preocupação com a perspectiva de a estatal não atingir a meta de receita e defendeu a necessidade de adequação das despesas. Alertou que isso era essencial para proteger os ativos dos Correios, garantir a continuidade das operações e alcançar os objetivos estratégicos.
Em 2024, a empresa teve um déficit de R$ 2,6 bilhões. Em janeiro de 2025, o governo federal passou a discutir medidas para reequilibrar as contas. Em maio, os Correios apresentaram um plano de reestruturação - esperavam economizar R$ 1,5 bilhão. Mas as despesas continuaram subindo e as receitas, caindo. Até setembro, a empresa registrou déficit de R$ 6 bilhões e a projeção é fechar 2025 com rombo de R$ 10 bilhões.
Sob pressão, os Correios apresentaram já em novembro um novo plano de reestruturação com previsão de demissão voluntária de 15 mil funcionários, venda de imóveis e pedido de empréstimo de R$ 20 bilhões. A estatal ainda não chegou a um acordo com os bancos e, agora, a expectativa é de que o empréstimo seja de R$ 12 bilhões.
Um órgão de fiscalização do governo também apontou problemas nos Correios. Técnicos da Controladoria-Geral da União encontraram inconsistências no balanço financeiro de 2023. Uma análise mostra que a estatal deixou de registrar R$ 1 bilhão de dívidas trabalhistas, o que evitou um resultado financeiro ainda pior.
JN tem acesso a documentos que mostram que direção dos Correios foi alertada há dois anos de que corria risco de ficar sem dinheiro
Jornal Nacional/ Reprodução
Segundo a CGU, os Correios registraram um rombo de R$ 600 milhões em 2023. De acordo com a auditoria, o déficit real foi de R$ 1,6 bilhão, porque a estatal não contabilizou as dívidas com funcionários que estavam na Justiça.
O Tribunal Superior do Trabalho já havia dado ganho de causa para os funcionários. Mas, às vésperas da publicação do balanço financeiro, os Correios usaram uma decisão liminar de uma instância inferior na Justiça comum para declarar que ainda havia dúvidas sobre a obrigatoriedade do pagamento. Na prática, retirou a previsão de despesa de R$ 1 bilhão. A CGU aponta que o procedimento não seguiu princípios e normas contábeis.
Os Correios também têm um outro órgão que assessora o Conselho de Administração: é o Comitê de Auditoria. Desde 2021, esse comitê vinha alertando que era necessário contratar uma empresa de auditoria independente mais robusta e mais preparada para atuar diante da complexidade dos negócios da estatal.
A direção dos Correios afirmou que assumiu há três meses e vem adotando medidas para reverter a crise e manter a estatal sustentável a longo prazo. Declarou ainda que o plano de reestruturação prevê equilibrar as contas, fortalecer a governança e modernizar os Correios; e que órgãos de supervisão do governo acompanham de maneira permanente a situação da empresa.
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