Analfabetismo funcional: quase 30% dos brasileiros têm dificuldade para ler textos básicos ou fazer contas
06/05/2025
(Foto: Reprodução) Estudo mediu o nível de alfabetização de mais de 2,5 mil brasileiros, de 15 a 64 anos. Para ser considerada alfabetizada, a pessoa precisa ser capaz de interpretar textos, expressar as próprias ideias e fazer operações simples de matemática. Quase 30% dos brasileiros são analfabetos funcionais, mostra pesquisa
Quase 30% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais - têm dificuldade para ler textos básicos ou fazer contas. Esse número não melhora há 15 anos.
“O que mudou na minha vida depois que eu comecei a estudar? Melhorei na leitura e me acho uma pessoa mais feliz”, diz Maria do Céu de Lima.
Traduzir as conquistas no papel era um desafio, agora, superado. A estudante Maria do Céu de Lima voltou em 2025 à escola. Ela estudou na infância, mas para compreender documentos, receitas de bolo, tinha que ler mais de uma vez.
“Eu já percebo que eu já estou engolindo menos letra, eu já estou sabendo fazer um ditado melhor, eu estou apaixonada, estou indo super bem”, comemora Maria do Céu.
“Eles percebem que eles melhoraram e aí continuam empolgados: ‘Ah, então eu melhorei, eu vou continuar' e não desanimam mais", conta Jaqueline Lourdes dos Santos Reis, professora do EJA de escola municipal de Itapevi.
Não basta conhecer as letras e os números. Para uma pessoa ser considerada alfabetizada, ela precisa ser capaz de entender, de interpretar o que o texto está dizendo, além de saber expressar as próprias ideias e conseguir fazer operações simples de matemática. Uma pesquisa mostra que quase um terço dos brasileiros tem dificuldades para cumprir essas tarefas. 29% do total foram considerados analfabetos funcionais: enfrentam problemas com leitura e matemática no cotidiano. Número que não melhora desde 2009, e inclui gente que nunca estudou.
Analfabetismo funcional: quase 30% dos brasileiros têm dificuldade para ler textos básicos ou fazer contas
Jornal Nacional/ Reprodução
A pesquisa é da Ação Educativa e do Conhecimento Social em parceria com a Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef. Ela mediu o nível de alfabetização de mais de 2,5 mil pessoas, de 15 a 64 anos em 2024. A costureira Ana Dias de Lima diz que aprender a ler foi como abrir os olhos para o mundo:
“A gente, quando não tem estudo, a gente é cego. Um dia, eu fui ali na estação e vi o trem Itapevi. Cheguei boba em casa”, lembra.
O analfabetismo funcional chega a 78% entre as pessoas que estudaram até o 5º ano do ensino fundamental; a 43% entre as que foram até o 9º ano. Está até no ensino médio, 17% e, no superior, 12%. Outro dado que preocupou os pesquisadores foi o aumento no índice de jovens entre 15 e 29 anos considerados analfabetos funcionais. Passou de 14% para 16% de 2018 para cá.
“O país perde a capacidade de produzir melhor, de inovar mais, de incluir essas pessoas. A escola é fundamental, é a partida desse processo. Educação infantil de qualidade, educação integral plena, ensino técnico profissionalizante, mas também educação ao longo da vida”, diz Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú.
A pesquisa mediu, ainda, a capacidade dos brasileiros de navegar no universo digital. Mais de 90% das pessoas classificadas como analfabetas funcionais tiveram desempenho baixo ou médio.
“Em um ambiente digital, você vai precisar ter um bom domínio da escrita, um bom domínio da leitura para você compreender a outra pessoa que está em comunicação com você. Para você acessar, por exemplo, serviços, você vai precisar de ter um bom domínio também dessas habilidades”, afirma Rosalina Soares, superintendência de Conhecimento na Fundação Roberto Marinho.
Conseguir fazer tarefas no celular é o próximo objetivo de Maria do Céu:
“Fazer PIX, aprender comprar, vender essas coisas pela internet. Eu não sei ainda. Estou aprendendo”.
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